segunda-feira, 31 de agosto de 2009

O Sermão dos peixes.

texto de autoria de cámilla sfint.
O Sermão dos peixes.
Sermão de Santo António aos Peixes foi proferido na cidade de São Luís do Maranhão em 1654, na sequência de uma disputa com os colonos portugueses no Brasil.O Sermão de Santo António aos Peixes constitui um documento da surpreendente imaginação, habilidade oratória e poder satírico do Pe. António Vieira, que toma vários peixes (o roncador, o pegador, o voador e o polvo) como símbolos dos vícios daqueles colonos.Com uma construção literária e argumentativa notável, o sermão louvar algumas virtudes humanas e, principalmente, censurar com severidade os vícios dos colonos. Este sermão (alegórico) foi pregado três dias antes de Padre António Vieira embarcar ocultamente (a furto) para Portugal, para obter uma legislação justa para os índios.Todo o sermão é uma alegoria (do grego, "falar em público") é uma figura de linguagem, mais especificamente de uso retórico, sua expressão transmite um ou mais sentidos que o da simples compreensão ao literal. Diz b para significar a. Uma alegoria não precisa ser expressa no texto escrito: pode dirigir-se aos olhos e, com freqüência, encontra-se na pintura, escultura ou noutras formas de linguagem. Embora opere de maneira semelhante a outras figuras retóricas, a alegoria vai além da simples comparação da metáfora. aplicação da alegoria, às vezes acompanhados de uma moral que deixa claro a relação entre o sentido literal e o sentido figurado.), porque os peixes são a personificação dos homens.
”Os homens tiveram entranhas para deitar Jonas ao mar, e o peixe recolheu nas entranhas a Jonas, para o levar vivo à terra.""E porque nem aqui o deixavam os que o tinham deixado, primeiro deixou Lisboa, depois Coimbra, e finalmente Portugal.""(...) o peixe abriu a boca contra quem se lavava, e Santo António abria a sua contra os que se não queriam lavar."
Todo o texto, em suma, é carregado de cultismo, caracterizando-o dentro dos moldes barrocos, pois a metáfora dos peixes é utilizada em toda a obra do Padre. Esse tipo de literatura moralista, comum na época se levarmos em consideração as outras produções do Pe. Antônio Vieira como o Sermão da Sexagésima, pregado em 1655, serviu para que os homens abrissem seus olhos para os acontecimentos da humanidade e refletissem acerca do texto pregado.
Caracterização dos Peixes repreendidos por Padre António VieiraEsta caracterização é feita, referindo os tipos de peixes, os defeitos destes, os argumentos utilizados pelo Padre António Vieira e exemplos de homens semelhantes ao peixe referido.Os Roncadores têm como defeitos a soberba e o orgulho. Os argumentos utilizados pelo Padre António Vieira são os seguintes: estes peixes são pequenos, mas têm muita língua; e são facilmente pescados. Refere ainda que os peixes grandes têm pouca língua e que os Roncadores têm muita arrogância e pouca firmeza. O Padre António Vieira dá ainda exemplos de homens semelhantes aos Roncadores: Pedro, Golias, Caifás e Pilatos.Os Pegadores têm como defeito o Parasitismo. Os argumentos utilizados pelo Padre António Vieira são: os Pegadore vivem na dependência dos (peixes) grandes e morrem com eles; os (peixes) grandes morrem porque comeram, os (peixes) pequenos morrem sem terem comido. O Padre António Vieira dá ainda exemplos de homens semelhantes aos Pegadores: toda a família da corte de Herodes, Adão e Eva.Os Voadores são presunçosos e ambiciosos. São estes os seus defeitos. Os argumentos utilizados pelo Padre António Vieira são que estes foram criados peixes e não aves, são pescados como peixes e caçados como aves e morrem queimados. O exemplo dado pelo Padre António Vieira é Simão Mago.O Polvo é traidor, enganador. É este o seu maior defeito. Este ataca sempre através de emboscada, sendo este o argumento utilizado pelo orador. O Padre António Vieira dá o exemplo de Judas, como sendo aquele que melhor se adapta ao Polvo.Comparação entre os peixes e Santo AntónioO Padre António Vieira compara os peixes referidos acima com Santo António.Os Roncadores são soberbos e orgulhosos, facilmente pescados, enquanto que Santo António, tendo tanto saber e tanto poder, não se orgulhou disso, antes se calou. Não foi abatido, mas a sua voz ficou para sempre.Os Pegadores são parasitas, aduladores, pescados com os grandes, enquanto que Santo António pegou-se com Cristo a Deus e tornou-se imortal.Os Voadores são ambiciosos e presunçosos. Santo António tinha duas asas: a sabedoria natural e a sabedoria sobrenatural. Não as usou por ambição; foi considerado leigo e sem ciência, mas tornou-se sábio para sempre.O Polvo é traidor, e Santo António foi o maior exemplo da candura, da sinceridade e verdade, onde nunca houve mentira.Episódio do PolvoA expressão "aparência tão modesta" (l. 208) traduz a aparente simplicidade e inocência do polvo, que encobre uma outra realidade (terrível realidade). O orador usa, neste caso, a ironia. A expressão "hipocrisia tão santa" (l. 209) contém em si um paradoxo: a hipocrisia nunca é santa. De novo, o orador usa uma ironia: o polvo apresenta um ar de santo, mas encobre uma cruel realidade. Tem uma máscara, é hipócrita, finge ser inofensivo.O mimetismo é o que o polvo usa para enganar: faz-se da cor do local ou dos objectos onde se instala.No camaleão, o mimetismo é usado em sua defesa contra os agressores. No polvo, este é um artifício para atacar os peixes desacautelados ou mais fracos.O orador refere a lenda de Proteu para contrapor o mito à realidade: Proteu metamorfoseava-se para se defender de quem o perseguia; o polvo, ao contrário, usa a metamorfose para atacar e não para se defender.Os verbos que se referem ao polvo estão no presente do indicativo, traduzindo uma realidade permanente e imutável; a forma "vai passando", no gerúndio, acentua a forma despreocupada dos outros peixes que lentamente passam pelo local onde se encontra o traidor; os verbos que se referem a Judas estão no pretérito perfeito do indicativo porque referem acções do passado. Há ainda o imperativo "Vê", que traduz uma interpelação directa ao polvo, tornando o discurso mais vivo.O polvo nunca ataca frontalmente, mas sempre à traição: primeiro, engana, camuflando-se, ou seja, serve-se das cores dos sítios onde se encontra; depois, ataca os inocentes.O texto deste capítulo segue a variedade de ritmos dos outros capítulos e apresenta os mesmos recursos para conseguir tal objectivo. Basta atentar no parágrafo que começa por "Rodeia a nau o tubarão… " e no texto referente ao polvo.Um elemento comum entre Judas e o polvo é a traição. Ambos foram vítimas deste defeito.Os elementos diferentes entre Judas e o polvo são os seguintes:- Judas apenas abraçou Cristo, outros o prenderam; o polvo abraça e prende.- Judas atraiçoou Cristo à luz das lanternas; o polvo escurece-se, roubando a luz para que os outros peixes não vejam as suas cores. Podemos então verificar que a traição de Judas é de grau inferior à do polvo.

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